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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

RDO: uma técnica de defesa para os profissionais de segurança

 

Luiz Alexandre Santos, Guarda Municipal do Rio de Janeiro
Aula de defesa pessoal para integrantes da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. (Foto: Assessoria de Comunicação Social da Guarda Municipal do Rio de Janeiro)
Aula de defesa pessoal para integrantes da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. (Foto: Assessoria de Comunicação Social da Guarda Municipal do Rio de Janeiro)
Durante muito tempo a defesa pessoal foi encarada meramente como parte integrante de uma instrução de formação do profissional de segurança, seja na esfera pública ou privada. Contudo, ao longo dos anos, face à evolução do crime e de seus praticantes, nos deparamos com a crescente necessidade de aprimoramento técnico da matéria defesa pessoal.
Uma melhor alimentação, a grande difusão da musculação e os suplementos alimentares vêm criando arruaceiros e criminosos muito mais fortes e preparados para “fazer na mão” com os agentes de autoridade. Paralelamente o crescimento do número de academias de artes marciais e os diversos projetos sociais sem a devidas fiscalização favoreceram a difusão das técnicas de elevada letalidade a alunos mal orientados, violentos, emocionalmente desequilibrados e até mesmo a integrantes de facções criminosas.
A verdade é que, se os delinquentes se aperfeiçoam, não há como as forças de segurança permanecerem inertes ou passos atrás de seus adversários. Assim sendo, vivendo o assunto na prática é que alguns profissionais da área de segurança pública iniciaram o desenvolvimento do método de defesa denominado “Recurso de Defesa Operacional” ou RDO. Para tanto, buscaram dois dos mais indicados “laboratórios” de aplicação de defesa pessoal, locais onde a necessidade de utilização de técnicas de defesa, imobilização e condução fossem indispensáveis, como a Guarda Municipal e o Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar (BOPE), ambos do Estado do Rio de Janeiro.
Atuando em conjunto, policiais militares, instrutores civis e guardas municipais modificaram todo o treinamento físico e de defesa pessoal da tropa de elite policial. Enquanto que as necessidades próprias da formação de um policial do BOPE certamente dispensam maiores explicações quanto ao domínio de técnicas do combate desarmado, na Guarda Municipal do Rio de Janeiro tal exigência se reveste de contornos ainda mais importantes.
Diferentemente de suas congêneres em diversas outras unidades da federação, a Guarda no Rio recomeçou suas atividades em 1992 como celetista e mesmo depois de tornada estatutária, ainda enfrenta um forte lobby contrário a sua dotação de armas de fogo. Mesmo que estejamos falando em atuar numa grande cidade onde as viaturas policiais não saem para a rua se não tiverem um agente portando fuzil, carabina ou espingarda, a falta de armas de fogo não é justificativa para que a Guarda deixe de atuar efetivamente em segurança pública. Numa condição em nada invejável, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro talvez se constitua no maior contingente de segurança pública a atuar sem armas de fogo na atividade de segurança pública em todo o mundo!
Só para que se tenha uma idéia, em novembro de 2010, quando a criminalidade atacava em diversos pontos da cidade e os efetivos policiais de diversos batalhões e delegacias da capital e interior eram redirecionados para atuar nas operações nos complexos da Penha e Alemão, os guardas municipais continuaram cumprindo sua missão de segurança na via pública, ainda que apenas munidos de cassetetes e eventualmente spray de gás de pimenta e umas poucas pistolas tipo taser não letais.
O RDO foi elaborado por profissionais da área de segurança pública que são lutadores profissionais de MMA (Mixed Martial Arts) e objetivou construir uma sólida ponte entre o conhecimento de uma arte marcial e a aplicabilidade profissional de tais conhecimentos. Com o advento da grande divulgação dos combates de artes marciais mistas, os profissionais da área de segurança (pública ou privada) puderam perceber um recrudescimento da resistência adversária nas suas ações de controle pessoal, e muitas vezes se viam sobrepujados por infratores.
A confiança de jovens baderneiros, lutadores ou aventureiros, por vezes tornada mais forte pelo consumo de substâncias entorpecentes que os impedem de sentir dor, é robustecida muitas vezes por técnicas que aprendiam em simples vídeos colhidos na internet. Daí a necessidade da integração dessas duas áreas profissionais – artes marciais e segurança – fornecendo aos agentes um recurso de defesa contra novas investidas que os salvaguarde contra a utilização de técnicas aprimoradas por parte de agressores. O profissional de segurança não poder perder!
Mais do que outras instituições de segurança, os quadros da Guarda Municipal do Rio de Janeiro apresentam uma flagrante necessidade de capacitação do profissional de segurança, para sua própria proteção. As experiências vivenciadas pelos agentes no dia a dia e suas especificidades cobram do profissional um conhecimento de técnicas de combate desarmado extremamente práticas e eficazes.
O RDO foi desenvolvido com o intuito de auxiliar os agentes de segurança no exercício de suas funções, onde a necessidade de intervenção por parte do agente determine a imobilização ou condução de um agressor. As intervenções devem sempre observar três pressupostos: prioridade, necessidade e responsabilidade. No primeiro, o agente avalia o motivo pelo qual estará executando a sua ação, percebe as características do cenário tático onde está atuando e quais as diretrizes a serem adotadas em face do evento. No segundo, o agente busca utilizar as técnicas e os meios necessários e apropriados para garantir a sua integridade e o desempenho de suas funções. No terceiro, o agente explora todo o profissionalismo que lhe cabe, empregando a força estritamente necessária, controlando emoções, visando a uma melhor execução das técnicas, garantindo e respeitando os direitos de todos os envolvidos na ocorrência.
Trata-se do emprego extremamente escrupuloso da boa técnica, assegurando sobretudo a manutenção de uma boa imagem da instituição e seus integrantes. Se todas as opções de convencimento sensato falharem, é imprescindível que o agente da segurança possa fazer valer a autoridade que representa, com o uso inteligente da força física e da boa técnica.
O RDO vem, através da interdisciplinaridade, contribuir para o crescimento profissional dos agentes e utilizando de uma metodologia técnica aplicada às práticas diárias do efetivo e às situações reais, consegue fazer com que os alunos entendam e capturem a mensagem de forma fácil e rápida, ainda que não possuam um conhecimento prévio de alguma arte marcial ou técnica institucional de defesa.
Vivendo numa sociedade em constante mudança, os agentes da segurança, além de possuírem o conhecimento técnico de auto defesa, necessitam conhecer a cultura local, as leis que norteiam sua atuação e serem capazes de analisar a conjuntura político-social do momento, sempre para decidir qual o curso de ação será o mais adequado. No RDO, instrutores e alunos interagem sobre as questões de aplicação da Força e da Lei durante praticamente todo o tempo. Este conhecimento é de suma importância, concorrendo diretamente para o sucesso ou fracasso de uma missão.
As técnicas de combate defensivo não podem ser resumidas em simples “receitas de bolo”. Não se pode padronizar uma ação e aplicá-la a todas as situações. O local onde serão empregadas, o tipo de público as suas motivações e diversos outros fatores e variáveis é que vão determinar qual a forma mais adequada de abordagem e o melhor passo a ser dado em direção à solução de um problema, de forma a minimizar os riscos para todos os envolvidos.
*Luiz Alexandre Santos é instrutor de defesa pessoal e técnicas operacionais, graduado em Gestão de Segurança Pública
Apoiado por Fábio André do Nascimento Satt, Especialista em Gerenciamento de Crise .

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