Empresário troca rotina de conforto por pesquisa na rua com mendigos
POR CRISTINE GERK
Quem são essas pessoas?
Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Como é o cotidiano deles?
Eles se dividem em grupos, com um líder que recebe os frutos de roubos, bicos e doações e redistribui. Esse chefão dá a comida e a bebida para todos e arruma lugar para dormir. É a lei do mais forte, um sistema de sobrevivência. Se alguém esconde alguma coisa e outro percebe, ele é retaliado, toma até facada. Sem contar que eles e roubam e estupram uns aos outros. Então, precisam ser protegidos por alguém. De quinta a sábado, não ‘dão mole’ por aí, porque tem muita gente que sai de boate e vai fazer xixi neles, joga garrafa, rasga roupa, bate. Geralmente dormem quando já está quase amanhecendo e se aglomeram de tarde. Ficam mais na Zona Sul porque tem restaurante, gente que doa comida, turista. Por isso, ali roubam menos. No Centro, os furtos rolam soltos.
Quais os sonhos deles?
Nem passa pela cabeça deles arrumar emprego. Falam muito em Deus, que um dia vão mudar de vida, mas não têm planos. Eles se aproveitam dos grupos religiosos, mas não levam a sério. As mulheres sabem que existe camisinha, onde podem pegar, mas não se preocupam se vão ter filho. Para elas, tanto faz. Só vivem revoltados com a Guarda Municipal e com a PM. E se alimentam da convicção de que uma pessoa bem-vestida tem obrigação de dar dinheiro a eles, sobretudo para mulheres com criança no colo. Ficam revoltados com a indiferença.
Por que não ficam nos abrigos?
Dizem que o abrigo é desleixado, que são maltratados. Mas o principal é o fato de serem dependentes e lá não podem alimentar seus vícios. Falta no abrigo abordagem profissional, psicológica e desintoxicação. As pessoas precisam ter perspectiva. A prefeitura já gastou uma grana para arborizar ruas e praças. Por que não aproveita para capacitar essas pessoas em botânica e jardinagem? É preciso ensinar noções de higiene, etiqueta social, incluí-los digitalmente. Morei na Europa e vi como essas pessoas são atendidas. Os governos lá são menos paternalistas. Não adianta só dar dinheiro, tem que ensiná-los a fazer alguma coisa. Muitos vivem do lixo, mas o governo não oferece para essas pessoas um curso de como vender, coletar e ganhar dinheiro com isso. Acabam sendo explorados por ferros-velhos e torrando tudo o que ganham em bebida.
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